quarta-feira, 9 de julho de 2014

8ª jornada do 22º Campeonato de Escrita Criativa

Tinha sete anos de idade, de cabeça pousada no ombro de minha mãe chorava por dentro. Sentia o tempo esvaziar-se e consumir-se. Sentia o cansaço a roubar-me a mãe. Sentia o amor por ela a apoderar-se dentro de mim. Sabia que a iam levar de mim, mas não queria acreditar. Não queria ver. Não queria ouvir. Não queria sentir. Mas desejava estar presente naquele momento. Queria ser o seu mais que tudo. Queria ver o seu último sorriso. Queria ouvir o seu último suspiro. Queria sentir o seu último instante. Queria viver aquele momento com intensidade. Senti um ciclo a fechar-se. Minha mãe presente no meu primeiro dia de vida e eu presente no seu último dia de vida. Confirmei todo o amor que depositou em mim. E de abraço apertado em minha mãe vi, ouvi e senti a vida levá-la de mim. O sabor a desejo e alívio apoderou-se de mim naquele momento. Misturava-se um misto de tristeza e satisfação. Desejava sentir o alívio de a deixar ver sofrer. Encontrava-me satisfeito por ter conseguido estar presente no finalizar de um ciclo. Mas apesar de tudo estava triste por deixar de ter minha querida mãe junto a mim.
Tenho vinte e sete anos de idade. Hoje pela primeira vez tenho junto a mim um filho meu. Abraço-o com carinho e afecto.
Vinte anos vivi. Vinte anos aprendi. Sei que sorrir é sofrer. Aprendi que ter é lutar. Descobri que amar é conquistar. Encontrei no sentir o viver. Achei o amor no sofrimento. Senti na perda o início. Achei no final o sentido da vida. E só no inicio da vida encontramos um amor para sempre.
Hoje sinto o tempo a encher-me e a saciar-me. Sinto o cansaço a trazer-me um filho. Sinto novamente o amor a apoderar-se de mim. Hoje queria ver tudo, ouvir tudo e sentir tudo. Consegui desfrutar nada. Foi num instante só. Num olhar só. E num suspirar só. Apenas senti o iniciar de um novo ciclo em minha vida. Fechei os olhos e lembrei minha mãe. Desejei ter meu filho presente no meu último dia. Ambicionei fazer feliz o meu filho como ela me fez feliz a mim. Num ciclo maior, mais longo e mais consistente. Embora o amor não se calcule em anos de vida, a verdade é que o que sinto por minha mãe e por meu filho é de sempre e para sempre.

Sem comentários: