sexta-feira, 18 de julho de 2014

10ª jornada do 22º Campeonato de Escrita Criativa

Caminho sem fim. Perdi, roubaram-me e fiz sofrer. Sofri, perderam-me e roubei. Agora caminho para nada e para ninguém. Percorro a maior estrada da minha vida. Descalço, num caminho de terra aprendo que viver não é apenas o que vivemos. 
Vivi sem ser feliz. Fui feliz quando não vivi, e vivi à procura de ser feliz quando não era. Percorri momentos de loucura e de paixão. Sempre à procura de amor e de solução. Nem amor nem solução. Vivi apenas. Agora caminho sem fim.
Vivi sem amor. Amei quando não era feliz, e fui feliz à procura do amor quando não o tinha. Senti momentos de felicidade e de calor. Sempre à procura de alegria e sabor. Nem alegria nem sabor. Vivi apenas. Agora caminho para nada.
Vivi sem paixão. Apaixonei-me vezes demais sem razão, e fui feliz a viver nos dias de loucura. Sempre à procura de felicidade e de vida. Nem felicidade nem vida. Vivi apenas. Agora caminho para ninguém.
Percorro vinte quilómetros de solidão. Levo vinte dias de reflexão. Sinto vinte anos de tristeza. Vivo vinte dias de arrependimento.
Percorro sozinho a vida. Finalmente sinto o viver. Vivo o final a sentir. Sinto a vida a terminar. Agora caminho sozinho na vida. Sinto que não vivi o que devia ter vivido e vivi o que não deveria ter sentido. Termino a vida a sentir-me eu próprio. Ser só. Ser único. Ser próprio. Ser incomparável. Sou apenas eu que vivi mais uma vida a caminhar por onde todos caminham e que no final caminha para nada e para ninguém. 
Sinto que estes penosos vinte quilómetros descalços levam-me para a beira de um abismo. Senti a dureza do caminho da vida nos pés. Vivi perdido de mim. Hoje fui eu que me perdi. Roubei felicidade a ninguém. Hoje foi a mim que me roubaram. Fiz sofrer por amor a nada. Hoje sofro eu por não amar.
Viver sem caminhar na vida é o maior caminho para o fim. Viver sem amor. Sem amar. Viver sem felicidade. Sem ser feliz. Viver sem sentido não tem sentido. Perdemo-nos num caminho sem volta. Caminhar num caminho sem vida leva-nos a uma vida sem sentido. 
Hoje sei que viver não se faz a caminhar sozinho, sem amor ou felicidade. Só se vive a vida feliz com amor e solidariedade!

terça-feira, 15 de julho de 2014

9ª jornada do 22º Campeonato de Escrita Criativa

Meus caros crentes,
Venho por este meio apresentar a minha demissão ao mundo. Após inúmeras vezes rever na minha consciência os prós e contras desta minha decisão, resolvi apresentá-los a vós, que (nem) sempre em mim acreditaram. Decidi julgar o mundo que eu próprio criei. Criei-o à minha imagem e semelhança, mas diria que criei uma versão experimental do mundo. Portanto, demito-me! E espero um dia reconstruir um novo mundo, mais exemplar, e em versão perfeita. 
Olhei para o mundo, e constatei que algo criado em prol da harmonia e com amor, foi substituído por guerra e ódio. Contemplei o Homem, que criei com inteligência e destreza, mas submeteu-se à intransigência e dureza de uns para com os outros. Admirei a minha maior criação – a natureza; mas até esta tem vindo sendo destruída e manipulada. Criei o mundo prezando a união e partilha. Ao contrário disso o Homem substitui-o por vingança e desunião. Insisti em divulgar o bem, mas com tantos erros criados paralelos ao meu ideal, perdurou o mal. Foram criados demasiados erros neste mundo por falta de experiência minha e por crença de que o bem ganha sempre o mal. Mas a verdade é que o mal ficou demasiado enraizado com o passar dos séculos. 
Acreditei demais no que criei: falhei. Agora só me resta assumir as responsabilidades e me despedir. É a hora de acabar o mundo. Não há mais bem. Acabou o bem. Nunca houve bem. Não há mais amor. Acabou o amor. Nunca houve amor. Não há mais vida. Acabou a vida. Nunca houve vida.
É a hora do fim, do final, do adeus, da despedida, do apocalipse... Do fim do mundo. 
Espero que me perdoem, tal como eu vos perdoei a todos pelos vossos erros durante toda a existência do mundo. Eu não teria errado se vós não tivésseis errado. Eu não teria desistido se vós não tivésseis desistido. Eu não teria sucumbido se vós não tivésseis sucumbido. Perdi o mundo, e quem perdeu foi o mundo.
Espero que noutra vida encontrem a vossa luz e o vosso sentido. Que noutro mundo, eu espero encontrar de novo tudo o que criei com uma nova luz e um novo sentido.
Despeço-me com saudações e votos que noutro mundo sejamos todos melhores!

O vosso Deus!

quarta-feira, 9 de julho de 2014

8ª jornada do 22º Campeonato de Escrita Criativa

Tinha sete anos de idade, de cabeça pousada no ombro de minha mãe chorava por dentro. Sentia o tempo esvaziar-se e consumir-se. Sentia o cansaço a roubar-me a mãe. Sentia o amor por ela a apoderar-se dentro de mim. Sabia que a iam levar de mim, mas não queria acreditar. Não queria ver. Não queria ouvir. Não queria sentir. Mas desejava estar presente naquele momento. Queria ser o seu mais que tudo. Queria ver o seu último sorriso. Queria ouvir o seu último suspiro. Queria sentir o seu último instante. Queria viver aquele momento com intensidade. Senti um ciclo a fechar-se. Minha mãe presente no meu primeiro dia de vida e eu presente no seu último dia de vida. Confirmei todo o amor que depositou em mim. E de abraço apertado em minha mãe vi, ouvi e senti a vida levá-la de mim. O sabor a desejo e alívio apoderou-se de mim naquele momento. Misturava-se um misto de tristeza e satisfação. Desejava sentir o alívio de a deixar ver sofrer. Encontrava-me satisfeito por ter conseguido estar presente no finalizar de um ciclo. Mas apesar de tudo estava triste por deixar de ter minha querida mãe junto a mim.
Tenho vinte e sete anos de idade. Hoje pela primeira vez tenho junto a mim um filho meu. Abraço-o com carinho e afecto.
Vinte anos vivi. Vinte anos aprendi. Sei que sorrir é sofrer. Aprendi que ter é lutar. Descobri que amar é conquistar. Encontrei no sentir o viver. Achei o amor no sofrimento. Senti na perda o início. Achei no final o sentido da vida. E só no inicio da vida encontramos um amor para sempre.
Hoje sinto o tempo a encher-me e a saciar-me. Sinto o cansaço a trazer-me um filho. Sinto novamente o amor a apoderar-se de mim. Hoje queria ver tudo, ouvir tudo e sentir tudo. Consegui desfrutar nada. Foi num instante só. Num olhar só. E num suspirar só. Apenas senti o iniciar de um novo ciclo em minha vida. Fechei os olhos e lembrei minha mãe. Desejei ter meu filho presente no meu último dia. Ambicionei fazer feliz o meu filho como ela me fez feliz a mim. Num ciclo maior, mais longo e mais consistente. Embora o amor não se calcule em anos de vida, a verdade é que o que sinto por minha mãe e por meu filho é de sempre e para sempre.

domingo, 29 de junho de 2014

7ª jornada do 22º Campeonato de Escrita Criativa

Meu pai entra na sala e eu olho-o sem pestanejar. Hoje é ele o meu paciente. Fito-o com uma sensação estranha. Paro e penso em como ajo e falo com outros pacientes. Quero chorar. Mas não choro. Estou a trabalhar. É meu pai. Todos os meus outros pacientes também poderão ser pais de alguém. Que vou dizer eu a meu pai? O mesmo que digo a todos os meus pacientes? Quem vou ser eu agora? O médico ou o filho?
- Todas as semanas há novas histórias e novos pacientes. Hoje és tu pai! A vida é clara e sempre me apoiaste em tudo o que desejei para a minha vida. Agora é a minha vez de te apoiar em tudo o que decidas daqui para a frente! És meu pai, severo, mas querido pai. Ensinaste-me a viver, a crescer, a estudar e a trabalhar. Devo-te tudo. Mas hoje és também meu paciente. Desejava ser mais que tudo, mas mais que tudo neste momento não chega. Queria poder inventar a cura. Queria poder fazer milagres. Mas a verdade é a realidade. 
Depois de me ouvir, meu pai suspirou e disse:
- Meu filho… À muito que sabia que estava doente. E por saber não quis ser teu paciente antes. És meu filho. Sei como és. Posso ser despistado e parecer desligado, mas de facto não o sou. A tua dualidade é compreensível. E eu já esperava. Aliás agrada-me saber que és assim. Sei que transmiti valores e que no final o trabalho que me deste valeu a pena. Tu és a certeza que irei deixar um excelente legado. E nem a verdade, nem a realidade me assustam… Tu és prova que sabes ser um bom médico e um bom filho. E melhor: sabes ser um bom filho médico. Sabia que me irias apoiar. E sei que no final desta conversa toda me vais compreender. Sempre foste bom ouviste. Sempre ponderaste opiniões. Sempre soubeste ouvir as críticas. Sempre te esforçaste para seres compreendido. Sempre actuaste para seres bem sucedido. E sempre lutaste pelos que amas. E nunca foste injusto com os que foram injustos contigo! À muito que sei do meu final. Hoje tenho a certeza que no final não vou ter fim. Tenho um filho que sabe o que tenho melhor que um médico e um médico que me respeita mais que um filho.

terça-feira, 17 de junho de 2014

6ª jornada do 22º Campeonato de Escrita Criativa

Acabou! Já ofereci tudo. Que mais necessita aquela alma que me atenta e decepciona a todas as horas? Quis tudo. Agora nada.
Enganaste-me desde o início. Continuei a acreditar. Eu seria melhor, tu também serias melhor… Eu sei que fui, tu continuaste. Deixei de acreditar, mas insisti. Usaste o maior engano da vida para ter tudo. Agora: tens nada, sabes nada, e és nada.
Não me conheceste como julgaste conhecer, não me conheces e nunca me conhecerás. Parti na verdadeira condição de nunca mais querer saber de ti. Usaste-me. Mentiste-me. Decepcionaste-me. Magoaste-me. Iludiste-me. Tudo para teu belo prazer. Pensavas que irias ter tudo para sempre? Que me manipulavas sempre? Não volto mais. Não quero mais. Não perdoo mais.
Podes usar a mentira para querer tudo, mas na verdade nunca saberás de nada. Perdes tudo por saber nada! Ganhas nada por querer tudo. És nada. És ninguém.
Deixei a aquela cortina cinzenta para trás. Agora sou verdadeiramente eu. Estou bem e sou feliz! Nada nem ninguém me vai fazer voltar a trás na minha decisão de ser feliz. Aprendi que o engano leva as pessoas a afogarem-se na ganância de querer tudo. No final nada sabem da vida, nada tem dela. Vivem e crescem pobres. Não lutam por nada. Não viram a página. Não entram noutra estrada. São infelizes. Quem sejam… Eu sofri, chorei, mas não deixei de lutar e acreditar que um dia ia conseguir sair de todo o engano onde me tinha colocado. Virei a página, mudei de estrada e nunca mais volto atrás. Aprendi e cresci.
Agora só confio em quem confia em mim. Só faço feliz quem me faz feliz. Só ofereço tudo a quem me oferece tudo. Só saberá tudo quem me contar tudo. Só serei verdadeiro quem for verdadeiro. Só serei de alguém quando alguém for verdadeiramente meu. E quando saberei que chegou esse alguém? Simplesmente saberei! Tudo o que já passei e tudo o que aprendi ofereceu-me ferramentas para olhar e escrutinar o mundo de outra forma. Sou mais perspicaz, sou mais céptico, sou mais inteligente! Pois o que não nos mata torna-nos mais fortes?! Pois bem… Hoje sei a verdade desta declaração. Hoje tenho alguém que acredito, que confio, que é verdadeiro e que me faz feliz! Farei mais e melhor. Farei tudo como nunca fiz alguém! Pois só hoje vejo translucidamente o futuro. É do meu presente e de quem é verdadeiro!

terça-feira, 10 de junho de 2014

5ª jornada do 22º Campeonato de Escrita Criativa

Que parvoíce uma pessoa adormecer aqui. A verdade é que assim sendo sou uma pessoa parva. Velha, acabada, cansada e entediada. Já reúno idade para saber mais da vida e ser melhor que qualquer um que me aborda. Mas a verdade é que não passo de um inútil, até para mim próprio. Depois deste cansaço que me acordou fechado numa cave ao meio da tarde vou onde eu arranjar forças para sair daqui? Que vim eu aqui fazer? Acordei pesado. Moído e cansado. Queria tocar e sentir as recordações. Adormeci a sonhar na vida que já vivi.
Foi tão bom viver! Agora já não tenho mais nada se não apenas a minha própria vida. Não tenho dormir ou acordar. Não tenho comer. Não tenho amizade ou amor. Não tenho saúde. Não tenho família ou amigos. Não tenho lugar, nem tenho tempo. 
Estou deprimentemente feliz. Sensação esquisita de inutilidade e felicidade. Sentimento de alegria deprimida. Vivi. Fui feliz e lutei. Conquistei e chorei. Perdi e alcancei. Ganhei e sofri.
Onde vou buscar eu forças para continuar? Já não tenho que continuar. Acabou bem, estou bem, vivi tudo. Quero terminar consciente de tudo o que vivi. Luto todos os dias para não me esquecer de mim, da vida e de todos os que nela viveram. Mas também procuro todos os dias o realizar de um sonho. Quero viver consciente que nunca me esqueci de viver até ao meu último segundo de vida. 
Quantas vezes sofri? Desejei terminar cedo demais. Continuei e fui feliz. Quantas vezes perdi? Batalhei e continuei. Quantas vezes ganhei o nada depois de perder tudo? Precisei de abdicar de tudo para ter melhor. Hoje somo mais de 32 880 dias de existência neste mundo. Quem me dera não me ter esquecido de todos. Mas tenho certeza que me relembrarei de todos os que me interroguei e persisti vivê-los até hoje.
Vou levantar e erguer-me. Ganhar força e subir em casa. Viver o que resta de mais um dia de um velho só e triste. Continuar a lutar o esquecimento com a felicidade das memórias e recordações. O que me move dias a fio é ser cruelmente insatisfeito. Quando estou triste me comovo e sou feliz. Quando estou alegre atropelo-me na angústia da vida. 
Sou um velho intransigente com a vida. Contente com o que viveu. Aborrecido com o que está a viver. Mas ciente que só assim sabe viver!

terça-feira, 3 de junho de 2014

4ª jornada do 22º Campeonato de Escrita Criativa

Aquele olhar soslaio enganava-me sempre. Havia dias que não o suportava, mas mesmo assim adorava-o. Olhava para ela de modo sempre contraditório para nunca denunciar o meu fascínio. Arrepiava-me só de a ouvir falar. E às vezes tramava-me até. Era um desconsolo vê-la sorrir. Mas eu tinha de a olhar sempre. Começava a ficar estrábico de tanto fazer de conta que não. Sabia que ia morrer perdido. Não sabia como me controlar. Mas sabia-me controlar.
- Oh Manuela, Manuela…
- Que me queres tu minha querida?
- Preciso de me denunciar!
Ela nunca compreenderia os sentimentos de um homem. Nunca quereria saber sequer quem sou. Seria para sempre seu hipotético guia, majestoso conselheiro ou confidente cor-de-rosa. Porquê? Porque ela não acreditava no amor! E eu também não, mas Manuela fazia-me acreditar. Eu vivia num mundo ao contrário. Ela vivia num mundo certo. E enganado para ela. Ela não tinha sido feita para ninguém. Tinha sido feita para mim. Queria-a para mim. Mas para mim não queria que fosse.
Ouvir-te falar encantava-me. Sei de cor todas as conversas que tivemos juntos. Sorte a minha sentir nos meus ouvidos a tua voz. Todo um dia era repleto de cor. E tu detestavas não ser escutada. Gritavas por ser exclusiva de tantos que nunca quiseste ter. Se alguma vez mo tivesses perguntado a mim… Também não sabia dizer que sim. Porque sei que não podes ser como eu. Não amavas, nem gostavas de ser amada. Gostaria de ter compreendido porquê. Falávamos tanto, mas dizíamos muito pouco. Querias tudo com nada. Tinhas nada com tudo.
Triste mulher alegre que foste. Amava-te caramba. Eu sei que sim. Mas não queria nem podia amar. Não te podia tocar. Mas desejava-o ardentemente dentro de mim. Ai o que sonhei por te tocar. Toquei. Mas não queria ter tocado como te toquei. Sufocaste-me como saco de ar vazio. Repudiaste-me e usaste-me. Mesmo assim agradeço. Eras linda. Pernas altas, morena e de ar prestante nos seus olhos cor de avelã. Eras perfeita. Obrigado por me humilhares e fazeres de mim um homem.
Precisava ter-me denunciado. Manuela amava-se apenas e só ela mesma. Mulher egocêntrica e mesquinha de valores. Mas desmedida de fulgor. Sem teu amor não valia a pena. Quis apenas sentir a tua humilhação e apagar-te. Não te queria ver mais. Sentir-te por perto ou longe seria matar-me. Decidi acabar. Acabou. Já não te amo Manuela.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

3ª jornada do 22º Campeonato de Escrita Criativa

Apostei tanta vez neste jogo que é amar... No primeiro amor, foram infinitas apostas, lutei bastante por amor, lutava por ser único e para sempre, mas no entanto saí derrotada pela intransigência! Tentei jogar de seguida com apostas às cegas e platónicas, mas saí derrotada pela ingenuidade logo à primeira tentativa. Sem querer saber mais de amar, jogar ou de quaisquer intransigências ou ingenuidades comecei a desistir de lutar. Quis desistir de mim, quis mudar a minha pessoa, quis desistir de jogar todos os jogos do amor, para prosseguir um jogo muito estereotipado na sociedade: jogar para sobreviver. Começava a achar que amar era um jogo apenas dos livros, dos filmes ou dos teatros. Até que me perguntei: “Quantas derrotas exige uma vitória?” Não sei, mas não posso desistir de ser eu e desistir de jogar para amar! Não quis embrenhar-me pelas lutas da sobrevivência social moderna; quis repensar em todas as formas que me levaram à derrota e prosseguir como o vento; deixei a então a vida trazer-me a coragem e a força para lutar pela derradeira vitória, pelo verdadeiro amor. Devemos lutar sempre por amor, mas não devemos ignorar que ele aparece sempre quando não esperamos, da maneira que não idealizamos e fica para sempre da forma como nunca imaginamos. Só vence quem sempre lutou, derrota após derrota, se levanta e insiste em refazer a vida e voltar a lutar. Mudei as armas, mudei as tácticas, mudei as perspectivas. Ataque e defesa são técnicas que no jogo do amor são ambivalentes. Nem sempre nos devemos preocupar em jogar ao ataque e insistir na luta pela procura do amor, pois desses sucessivos ataques surgem derrotas que nos levam a um amor ilusório; mas também não nos devemos restringir só à defesa permissiva da derrota, pois o significado de ter perdido uma vez não nos inibe que na próxima luta não alcancemos a vitória e ganhemos o amor da nossa vida. Pois quando menos esperamos o ataque surge em momento de defesa e podemos sem querer correr para um contra-ataque em que alcançamos a maior vitória da nossa vida! Amar e ser amado da forma como somos, respeitando e sendo respeitado, valorizando e sendo valorizado. E neste jogo de amor, eu acredito que alcancei a vitória. Não sei quantas vezes fui derrotada, mas quando menos esperei, aproveitei a oportunidade, não desisti, contra-ataquei para lutar uma última vez e venci.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

2ª jornada do 22º Campeonato de Escrita Criativa

Rasgou o papel e tomou a decisão.
“Já não quero mais! Quero-te a ti, e a nós. Não quero desistir do que construímos juntos, do que sonhámos juntos, e de tudo o que planeámos juntos. Não somos só tu e eu. Somos nós. Não vai haver mais alguém, mais nada, ou o quer que seja entre nós. Quero que renasça o amor, a união, o entendimento, a compaixão, o carinho, a solidariedade, a entrega, a confiança, e tudo o que necessitamos para nos mantermos fiéis um ao outro e a nós mesmos. Quero provar que mereço mais uma oportunidade, a derradeira oportunidade de nunca mais acabar. O que começámos não pode acabar. Custou muito lutar, acalmar, construir, planear, sonhar em sermos quem somos: um do outro. Não quero acabar desta forma. Não! Se te prometi que era para sempre, será para sempre. Também me levantarei e mudarei por ti; e também te ajudarei a te levantares e a mudares, se assim estás disposto por mim. Vamos lutar juntos, como sempre lutamos; não tens que ser só tu a lutar por mim. Vamos acalmar juntos, como sempre nos acalmamos um ao outro em todos os nossos dias de euforia e constrangimento. Vamos reconstruir juntos o que sem querer destruímos depois de tanta construção. Vamos voltar a planear juntos, deixarmos de nos preocuparmos apenas connosco próprios. Vamos voltar a sonhar juntos e a acreditar que nunca deixamos nem vamos deixar de ser um do outro! Eu sei que errei, que prevariquei, que te deixei sozinha, que me importei mais comigo do que connosco, e que em certas alturas até me esqueci de ti. Sei que tens razão em muitos dos defeitos quem em mim apontas, pois em ti vejo o reflexo do meu egocentrismo. Quero evoluir por quem por mim evolui. Quero melhorar por quem por mim melhora. Quero lutar por quem por mim todos os dias luta. A vida está cheia de artimanhas para separar o que a própria vida uniu. E eu não quero errar em me ver longe de quem me ama só porque decidi mal. O que eu decidir no momento errado pode levar-me para longe do que eu realmente quero e desejo. Não quero que um impulso me leve para longe de quem amo. Pois afinal de contas, foste, és e sempre serás a mulher da minha vida!”
E depois disto: viveram felizes para sempre.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

1ª jornada do 22º Campeonato de Escrita Criativa

Um homem está, ao volante, parado diante de um semáforo vermelho. E num segundo sem que ninguém previsse um camião sem travões galga por trás do seu carro...

- O que se está a passar? Que acidente terrível estou eu aqui a ver agora à minha frente! Mas eu estava à um bocado a pensar no que ia fazer agora que saí do trabalho, ainda não me tinha decidido… Que estou eu aqui a fazer na rua a ver este acidente aparatoso?! Tenho que voltar para o carro… Mas eu estava dentro daquele carro! Aquele carro é o meu carro! Aquele camião esmagou o meu carro! Eu estava naquele carro! Não, não estou, estou aqui! Estou aqui a ver o acidente do meu carro? Porque estou aqui se eu estava ao volante do meu carro a pensar no que ia fazer quando chegasse a casa depois do trabalho? Porque todos os dias quando saio do trabalho penso sempre no que vou eu fazer a seguir? Porque tenho de passar a minha vida a pensar e decidir o que fazer depois do trabalho? Estou a sentir saudades dos meus amigos! E da minha família! Eu nunca passo tempo com os meus amigos… Nem com a minha família! Sou tão intransigente com eles; passo os dias a trabalhar, a pensar e a decidir o que fazer quando chego a casa! Espera… Eu estou no meu carro! Eu estou a ver o meu acidente de carro? Eu estou aqui?! Ou eu estou ali?! O que me está a acontecer? Que sentimentos me estão a chegar agora? O que estou eu a pensar agora? Quero ir para casa e quero trabalhar! Onde trabalho eu? Onde vivo eu? Eu já não estou aqui? O que me aconteceu? Quem sou eu? Quem fui eu?! Queria tanto ter sido feliz… Não pode ter acabado agora… Eu estava a viver um dia normal da minha vida! Queria ter provado à minha mulher que a amo efectivamente, queria ter dito “Obrigado” aos meus pais, queria ter convivido mais com os meus amigos, queria ter tido mais tempo para pensar nos outros, e não tanto em mim! Vivi mais tempo a trabalhar e a pensar na minha vida que me esqueci de vivê-la realmente! Agora estou aqui perante o fim da minha vida, perante a vida que não vivi!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Luar

Espera-me no local de todas as nossas noites, identificar-me-ás ao longe, pois estarei na sombra do luar.
Sente-me a respirar, estarei ladeada dos vapores provenientes da luz que ilumina a noite.
Abraça-me e marca esse negro e iluminado cenário catedrático como símbolo do nosso amor.
Beija-me no escuro da noite, todos os sentimentos que me ofereceres trazer-te-à luz nas trevas da tua vida.
Canta-me uma melodia com todos os teus sentimentos, ouvir-te na sombra tornar-se-à na maior recordação que alguma vez me ofereceram.
Adormece comigo ao luar. Quero contigo amanhecer e contigo iniciar uma nova e eterna jornada na nossa vida.