terça-feira, 10 de junho de 2014

5ª jornada do 22º Campeonato de Escrita Criativa

Que parvoíce uma pessoa adormecer aqui. A verdade é que assim sendo sou uma pessoa parva. Velha, acabada, cansada e entediada. Já reúno idade para saber mais da vida e ser melhor que qualquer um que me aborda. Mas a verdade é que não passo de um inútil, até para mim próprio. Depois deste cansaço que me acordou fechado numa cave ao meio da tarde vou onde eu arranjar forças para sair daqui? Que vim eu aqui fazer? Acordei pesado. Moído e cansado. Queria tocar e sentir as recordações. Adormeci a sonhar na vida que já vivi.
Foi tão bom viver! Agora já não tenho mais nada se não apenas a minha própria vida. Não tenho dormir ou acordar. Não tenho comer. Não tenho amizade ou amor. Não tenho saúde. Não tenho família ou amigos. Não tenho lugar, nem tenho tempo. 
Estou deprimentemente feliz. Sensação esquisita de inutilidade e felicidade. Sentimento de alegria deprimida. Vivi. Fui feliz e lutei. Conquistei e chorei. Perdi e alcancei. Ganhei e sofri.
Onde vou buscar eu forças para continuar? Já não tenho que continuar. Acabou bem, estou bem, vivi tudo. Quero terminar consciente de tudo o que vivi. Luto todos os dias para não me esquecer de mim, da vida e de todos os que nela viveram. Mas também procuro todos os dias o realizar de um sonho. Quero viver consciente que nunca me esqueci de viver até ao meu último segundo de vida. 
Quantas vezes sofri? Desejei terminar cedo demais. Continuei e fui feliz. Quantas vezes perdi? Batalhei e continuei. Quantas vezes ganhei o nada depois de perder tudo? Precisei de abdicar de tudo para ter melhor. Hoje somo mais de 32 880 dias de existência neste mundo. Quem me dera não me ter esquecido de todos. Mas tenho certeza que me relembrarei de todos os que me interroguei e persisti vivê-los até hoje.
Vou levantar e erguer-me. Ganhar força e subir em casa. Viver o que resta de mais um dia de um velho só e triste. Continuar a lutar o esquecimento com a felicidade das memórias e recordações. O que me move dias a fio é ser cruelmente insatisfeito. Quando estou triste me comovo e sou feliz. Quando estou alegre atropelo-me na angústia da vida. 
Sou um velho intransigente com a vida. Contente com o que viveu. Aborrecido com o que está a viver. Mas ciente que só assim sabe viver!

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