terça-feira, 3 de junho de 2014

4ª jornada do 22º Campeonato de Escrita Criativa

Aquele olhar soslaio enganava-me sempre. Havia dias que não o suportava, mas mesmo assim adorava-o. Olhava para ela de modo sempre contraditório para nunca denunciar o meu fascínio. Arrepiava-me só de a ouvir falar. E às vezes tramava-me até. Era um desconsolo vê-la sorrir. Mas eu tinha de a olhar sempre. Começava a ficar estrábico de tanto fazer de conta que não. Sabia que ia morrer perdido. Não sabia como me controlar. Mas sabia-me controlar.
- Oh Manuela, Manuela…
- Que me queres tu minha querida?
- Preciso de me denunciar!
Ela nunca compreenderia os sentimentos de um homem. Nunca quereria saber sequer quem sou. Seria para sempre seu hipotético guia, majestoso conselheiro ou confidente cor-de-rosa. Porquê? Porque ela não acreditava no amor! E eu também não, mas Manuela fazia-me acreditar. Eu vivia num mundo ao contrário. Ela vivia num mundo certo. E enganado para ela. Ela não tinha sido feita para ninguém. Tinha sido feita para mim. Queria-a para mim. Mas para mim não queria que fosse.
Ouvir-te falar encantava-me. Sei de cor todas as conversas que tivemos juntos. Sorte a minha sentir nos meus ouvidos a tua voz. Todo um dia era repleto de cor. E tu detestavas não ser escutada. Gritavas por ser exclusiva de tantos que nunca quiseste ter. Se alguma vez mo tivesses perguntado a mim… Também não sabia dizer que sim. Porque sei que não podes ser como eu. Não amavas, nem gostavas de ser amada. Gostaria de ter compreendido porquê. Falávamos tanto, mas dizíamos muito pouco. Querias tudo com nada. Tinhas nada com tudo.
Triste mulher alegre que foste. Amava-te caramba. Eu sei que sim. Mas não queria nem podia amar. Não te podia tocar. Mas desejava-o ardentemente dentro de mim. Ai o que sonhei por te tocar. Toquei. Mas não queria ter tocado como te toquei. Sufocaste-me como saco de ar vazio. Repudiaste-me e usaste-me. Mesmo assim agradeço. Eras linda. Pernas altas, morena e de ar prestante nos seus olhos cor de avelã. Eras perfeita. Obrigado por me humilhares e fazeres de mim um homem.
Precisava ter-me denunciado. Manuela amava-se apenas e só ela mesma. Mulher egocêntrica e mesquinha de valores. Mas desmedida de fulgor. Sem teu amor não valia a pena. Quis apenas sentir a tua humilhação e apagar-te. Não te queria ver mais. Sentir-te por perto ou longe seria matar-me. Decidi acabar. Acabou. Já não te amo Manuela.

Sem comentários: